quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Caymmi centenário

Crítica: ‘Caymmi centenário’ surpreende com Caetano, Chico, Gil e Nana, entre outros

Tributo dirigido por Dori e Mario Adnet acerta ao focar no caráter mais celestial da obra do baiano

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No estúdio, Chico Buarque entre os arranjadores e produtores Mario Adnet e Dori Caymmi durante a gravação
Foto: Divulgação


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RIO — A supressão da primeira parte de “João Valentão”, na voz de Dori Caymmi, não esgota o que há para se dizer de “Caymmi centenário” (Biscoito Fino) — tributo dirigido por Dori e Mario Adnet, com a participação de Caetano Veloso, Chico Buarque, Gilberto Gil, Nana e Danilo Caymmi. Porque a dinâmica de “João Valentão” vem exatamente do choque — o diálogo, ou síntese — entre as duas faces do personagem: o brigão da primeira parte e o lírico (sensível ao “ronco das ondas”, que sonha acordado) da segunda.
Entre o Caymmi profundamente mundano, malicioso, terreno e o Caymmi divino, metafísico, o disco dá preferência indubitável ao segundo. Os arranjos orquestrais de Dori e Adnet (que constroem harmonias sublimes, iluminando novas perspectivas de clássicos como “Dora” e “Vatapá”) e a escolha do repertório apontam para isso. Assim como outras supressões, mais sutis. É o caso do “tem”, do fim dos versos de “O que é que a baiana tem?” (com Caetano, Gil e Chico) ou dos “ai” de “Saudade da Bahia” (com Caetano). Sem eles, essas músicas se afastam da oralidade, do caráter de crônica de cotidiano, e chamam a atenção sobre si mesmas — e sua grandeza — como canção, sua beleza “divina”.
A densidade dos temas (e dos arranjos) de “Sargaço mar” e “A lenda do Abaeté”, ambas potencializadas pelo canto de Nana, fincam-se no disco como marcos desse Caymmi metafísico.
Mesmo quando visita o lado mais buliçoso do compositor — o que ocorre sobretudo nas cantadas por Gil (“Rosa morena”, “Samba da minha terra”) —, o disco não abandona musicalmente essa dimensão mais flutuante e menos terrena do baiano. Basta ouvir a conversa dos sopros no início de “Samba da minha terra”, tão luminosa quanto saborosa, para entender o que se fala aqui. Um tributo, enfim, à altura da grandeza de Caymmi, com a sabedoria de não tentar abarcá-lo inteiro num abraço único.
“Caymmi centenário”
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